15 dezembro, 2025

Oxigênio vs. Ozônio

Sua respiração fica mais fácil depois de uma tempestade. O ar está limpo e carregado de frescor. Esta não é apenas uma imagem poética. Trovões resultam na formação de gás ozônio na atmosfera, e é esse gás que faz o ar parecer mais limpo.
Ozônio é essencialmente oxigênio. A diferença é que a molécula de oxigênio contém dois átomos do elemento, enquanto a molécula de ozônio contém três. O2 e O3, um átomo a mais ou um átomo a menos de oxigênio, isso deveria fazer uma grande diferença? Faz uma diferença muito grande: ozônio e oxigênio são substâncias completamente diferentes.
Sem oxigênio não há vida. Por outro lado, o ozônio em grandes concentrações mata todos os seres vivos. É um agente oxidante extremamente poderoso, perdendo apenas para o flúor. Ao se combinar com substâncias orgânicas, o ozônio as destrói imediatamente. Quando atacados pelo ozônio, todos os metais, exceto ouro e platina, se transformam rapidamente em seus óxidos.
É uma farsa! Assassino de todos os seres vivos, o ozônio também promove a vida na Terra de muitas maneiras. Esse paradoxo é fácil de explicar. As radiações solares não são uniformes. Elas contêm os chamados raios ultravioleta. Se todos eles atingissem a superfície da Terra, a vida na Terra seria impossível, pois esses raios carregam uma quantidade imensa de energia e são fatais para os organismos vivos.
Felizmente, apenas uma fração muito pequena dos raios ultravioleta do Sol atinge a superfície da Terra. A maioria deles perde sua força na atmosfera a uma altitude de 20 a 30 quilômetros. Nesse nível da camada de ar que envolve nosso planeta, há uma grande quantidade de ozônio, que absorve os raios ultravioleta.
A propósito, uma das teorias atuais sobre a origem da vida na Terra relaciona o surgimento dos primeiros organismos à época da formação da camada de ozônio na atmosfera. Mas as pessoas também precisam de ozônio na Terra, e em grandes quantidades. Elas, e principalmente os químicos, precisam desesperadamente de milhares e milhares de toneladas de ozônio.
A indústria química aproveitaria com prazer o impressionante poder oxidante do ozônio. Os trabalhadores da indústria petrolífera também se curvariam ao ozônio. O petróleo de muitos campos petrolíferos contém enxofre. Óleos ácidos, como são chamados, causam muitos problemas, por exemplo, por corroerem rapidamente equipamentos, como, por exemplo, fogões de caldeiras em usinas de energia. Com o ozônio, esses óleos poderiam ser facilmente liberados do enxofre, e o enxofre removido poderia ser utilizado para dobrar ou até triplicar a produção atual de ácido sulfúrico.
Bebemos água clorada. É inofensiva, mas seu sabor é inferior ao da água de nascente. A água potável tratada com ozônio é absolutamente livre de bactérias patogênicas e não tem sabor desagradável.
O ozônio pode renovar pneus velhos de automóveis e branquear tecidos, celulose e fios. Ele pode fazer muitas outras coisas. E é por isso que cientistas e engenheiros estão trabalhando no projeto de ozonizadores industriais de alta capacidade.
É isso que é o ozônio! O3 não é menos importante que O2. A filosofia formulou há muito tempo o princípio dialético da transição da quantidade para a qualidade. O exemplo do oxigênio e do ozônio é uma das manifestações mais vívidas da dialética na química.
Existe outra molécula conhecida pelos cientistas, composta por quatro átomos de oxigênio, o O4. No entanto, esse "quarteto" é muito instável e quase nada se sabe até agora sobre suas propriedades.
https://todayinsci.com/stories/story014.htm. Ver +

14 dezembro, 2025

Café para a estrada

Se a sua ideia de “café para a estrada” se limita a beber café quando você dirige um carro na estrada, este estudo de pesquisa pode expandir seu horizonte mental:

Efeitos de reologia e microestrutura de resíduos de borra de café na modificação de ligante asfáltico”, Mingjun Xie, Linglin Xu, Kai Wu, Yutong Wen, Hongmi Jiang e Zhengwu Jiang, Materiais de baixo carbono e construção verde, vol. 1, n.º 1, 2023, artigo 3.

Nesse estudo, os autores relatam que a borra de café resultante de produtos da indústria cafeeira quando incorporada a ligantes asfálticos melhora o desempenho destes.

Bônus: "One more cup of coffe", uma canção de Bob Dylan a respeito do café na estrada.


One more cup of coffee for the road
One more cup of coffee 'fore I go
To the valley below.
Mais uma xícara de café para a estrada
Mais uma xícara de café antes que eu vá
Para o vale abaixo.

13 dezembro, 2025

O verde de Scheele

Em 1775, investigando as propriedades químicas de uma substância que continha arsênico, o químico sueco Carl Wilhelm Scheele (imagem) produziu um pigmento que ficou conhecido como verde de Scheele.


No processo de produção dessa substância, ele envenenou-se-se até a morte aos 43 anos.
Infelizmente, essa não foi a única vida que o verde de Scheele ceifaria. Na Europa, a cor era amplamente utilizada em decoração. De fato, um estudo realizado na Inglaterra no final do século XIX indicou que quatro em cada cinco papéis de parede continham verde de Scheele. Pesquisadores da época notaram que, quando o papel de parede ficava úmido, exalava um odor "semelhante ao de rato", que causava doenças e mortes.
E, na década de 1930, cientistas confirmaram que o cheiro era um gás letal produzido por um fungo presente no papel de parede.
Curiosamente, o verde de Scheele pode ter contribuído para a morte de Napoleão Bonaparte. Durante os últimos anos de sua vida, Napoleão viveu exilado em Santa Helena, uma ilha úmida na costa oeste da África. Seu quarto tinha papel de parede verde-brilhante, e o ar em Santa Helena era úmido o suficiente para o desenvolvimento de fungos. Em 2001, cientistas analisaram amostras do cabelo de Napoleão e descobriram níveis de arsênico até 38 vezes maiores que o normal.
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ARSÊNIO (o elemento químico) e ARSÊNICO (o nome popular de um composto dele) são a mesma coisa no uso comum, mas tecnicamente o termo "arsênico" refere-se mais especificamente ao trióxido de arsênio (As2O3), o famoso "veneno branco", que é o composto mais tóxico do elemento químico Arsênio (As).

12 dezembro, 2025

Cordel e cordelistas

 A Literatura de Cordel é um gênero literário popular no Brasil, especialmente no Nordeste, caracterizado por sua forma rimada e sua apresentação em folhetos de papel.

Os poemas, escritos em versos, geralmente narram histórias, lendas, fatos históricos e acontecimentos do cotidiano.

Essas histórias são impressas em pequenos folhetos com xilogravuras, que eram tradicionalmente pendurados em cordas ou barbantes, daí o nome "cordel".

As ilustrações não apenas embelezam os folhetos, mas também ajudam a contar a história, sendo parte integral da experiência do cordel.

A origem da Literatura de Cordel remonta à tradição oral dos trovadores medievais na Europa, principalmente em Portugal e na Espanha.

Esses trovadores recitavam suas poesias em feiras e mercados, transmitindo histórias e notícias. Com a colonização essa tradição foi trazida para o Brasil, onde se adaptou e evoluiu.

O cordelistas, como são chamados os autores de cordel, eram frequentemente viajantes que levavam seus folhetos para vender em feiras, festas e outros eventos, disseminando assim suas histórias por todo o país.

Eles, muitas vezes, são também repentistas, capazes de criar e recitar versos improvisados.

A métrica mais comum usada nos cordéis é a sextilha, que consiste em estrofes de seis versos, geralmente com sete sílabas em cada verso, e rimas alternadas. 

Ao registrar histórias e lendas transmitidas de geração em geração, o cordel contribui para a preservação da memória cultural de um povo.

Ao utilizar uma linguagem simples e temas acessíveis, o cordel estimula a leitura e a escrita, especialmente entre as camadas humildes da população.

As obras de cordel podem abordar uma grande variedade de temas, desde histórias de reis e rainhas até aventuras de cangaceiros, romances e críticas sociais.

Existem inúmeros cordelistas famosos, como o paraibano Leandro Gomes de Barros, considerado o "pai do cordel", e Patativa do Assaré, um dos maiores poetas populares brasileiros.

Ao longo do tempo, a Literatura de Cordel ganhou reconhecimento e valorização, sendo estudada em universidades e apreciada por um público mais amplo.

(Extraído de um material de divulgação da Secretaria de Cultura do Ceará)

Antônio Gonçalves da Silva, mais conhecido por Patativa do Assaré (1909 - 2002). Nasceu no município de Assaré, no Estado do Ceará. Ele começou a compor e a  recitar poesias ainda jovem, inspirado pelas histórias e cantorias tradicionais do sertão nordestino. Seus versos frequentemente abordavam temas como a vida no sertão, as dificuldades enfrentadas pelos agricultores, as injustiças sociais e a luta por melhores condições de vida. Dentre suas obras mais conhecidas estão: "Triste Partida", que foi musicada por Luiz Gonzaga e se tornou um clássico da canção nordestina, e "Vaca Estrela e Boi Fubá", que Patativa apresentou em show no Theatro José de Alencar, em 1980, e que Fagner editou em LP pela CBS. https://youtu.be/mdYqWeR6ZuI?si=Q1u7suKWOaQq_03o

11 dezembro, 2025

Uma maneira chocante de lidar com os alunos travessos

Em outubro de 1924, o professor de ciências de uma escola de Barnesville, HT Opsahl, um ex-militar de 25 anos, ordenou que o perturbado aluno Earl Tenneson se sentasse em uma cadeira de madeira na sala de aula. O adolescente obedeceu e logo sentiu uma descarga elétrica a percorrer o corpo.


Opsahl (às vezes escrito como Upsahl em relatos de jornais contemporâneos) tinha uma baixa tolerância a maus comportamentos. E, pelo que se sabe, em algum momento de seu magistério, teve a ideia de instalar uma barra de metal em uma das cadeiras de madeira da sala de aula. Essa barra podia conduzir a eletricidade gerada por uma bobina de Tesla.
De acordo com Opsahl, a cadeira foi originalmente concebida como um experimento científico, a qual, mais tarde, foi transformada num móvel de punição para alunos travessos . (Uma régua sobre os nós dos dedos foi considerada muito banal.)
Earl foi para casa e contou ao pai, Fred Tenneson, que seu professor o havia condenado à cadeira. E o pai, por sua vez, procurou a polícia para prender Opsahl sob a acusação de agressão.
Embora eletrocutar uma criança parecesse algo que resultaria numa suspensão para um professor, Opsahl ficou livre para retornar ao trabalho assim que pagasse uma fiança de US$ 2.000.
Opsahl tinha sua própria perspectiva: a cadeira apenas proporcionava uma "sensação de formigamento", disse ele. Se os braços do aluno se soltassem dos apoios, poderia haver faíscas, mas "o aluno não se machucaria". A voltagem não era maior do que a usada pelos médicos da época para tratar reumatismo.
Fred inclusive alegou que seu filho havia chegado em casa com queimaduras graves nas pernas, causadas pela cadeira. Mas, ao analisar o caso, o promotor WG Hammett não encontrou evidências de lesão corporal. Na audiência de Opsahl, este pediu ao juiz que rejeitasse as acusações. O juiz concordou.
Opsahl permaneceu em Barnesville, carregando entre os alunos a reputação de ser alguém cujas aulas de ciências exigiam decoro. Poucos anos depois, mudou-se para Fargo, Dakota do Norte, onde continuou a lecionar ciências — presumivelmente sem quaisquer experimentos adicionais com eletricidade.


Os castigos corporais na escola antiga (no Brasil), Linha do Tempo

10 dezembro, 2025

A economia (de uma forma econômica)

É uma disciplina complexa e controversa. Desentendimentos acalorados entre economistas já inspiraram a seguinte observação:
Economia é o único campo em que duas pessoas podem dividir um Prêmio Nobel por dizerem coisas opostas.
Os prêmios de 1972 concedidos a Myrdal e Hayek vêm à mente, assim como os prêmios de 2013 a Fama e Shiller.
Um gráfico do Pixabay:
https://quoteinvestigator.com/2025/07/08/economics-opposite/

09 dezembro, 2025

Conteúdo sempre verde

De"evergreen content", termo em inglês que significa "conteúdo sempre verde". É aquele conteúdo que permanece fresco, relevante e valioso para o público por um longo período de tempo, assim como as árvores perenes que mantêm suas folhas verdes durante todo o ano.
Em outras palavras, é um conteúdo atemporal.
Não está preso a uma data, tendência ou evento específico e sua utilidade não "expira". É continuamente relevante, pois responde a perguntas e necessidades que as pessoas terão hoje, no próximo ano e daqui a cinco anos. As pessoas sempre estarão procurando por aquele assunto em mecanismos de busca como o Google.
Exemplos práticos 
São a melhor forma de entender o conceito. "Como ferver um ovo": as pessoas sempre vão querer saber a respeito disso. "Como trocar um pneu furado": o método básico não muda. "Dicas para escrever um bom currículo": embora os formatos possam evoluir, os princípios fundamentais (clareza, objetividade) permanecem. "O que é a Teoria da Relatividade?": um conceito científico fundamental. Assim por diante.
Por que o conteúdo sempre verde é tão valioso?
É a "máquina de tráfego" de um blog. Um único "post evergreen" pode atrair visitantes todos os dias, durante anos, sem nenhum esforço adicional de divulgação. Os mecanismos de busca amam (e vasculham) o conteúdo sempre verde. Entendem que ele é perene e continuamente útil, o que pode ajudar a postagem a "rankear" bem nos resultados de pesquisa. E estabelecem autoridade. Conteúdos fundamentais e profundos posicionam você como uma referência no assunto.
Uma ressalva importante: a "podagem" 
Mesmo o conteúdo perene pode precisar de uma manutenção ocasional, um processo chamado de "atualização" ou "podagem". Essa atualização é geralmente muito mais rápida do que escrever um post a partir do zero e pode revitalizar o conteúdo para o Google, fazendo-o "rankear" novamente. 
Em resumo, o conteúdo duradouro é a espinha dorsal de um blog sustentável e bem-sucedido. São os pilares de conteúdo que garantem um tráfego consistente e estabelecem o grau de autoridade no longo prazo.

08 dezembro, 2025

Na Penitenciária Green Haven

Um dos crimes mais lembrados do século XX foi o assassinato do cantor John Lennon, morto por Mark David Chapman no dia 8 de dezembro de 1980. Chapman está em prisão perpétua desde então e, em uma audiência de liberdade condicional (a 14ª pela qual ele passou), o assassino falou sobre sua motivação para o crime.
Ele afirmou que teria cometido o crime para "ser alguém". Chapman contou que estava em um ponto muito baixo de sua vida naquela época e que encontrou "um propósito" no crime. Durante o depoimento, ele também se desculpou pelo sofrimento causado aos fãs e amigos do músico, mas o comitê não considerou suas palavras convincentes.
O pedido de liberdade condicional foi negado pelo comitê e Chapman segue cumprindo sua pena na Penitenciária Green Haven. Ele está com 70 anos.
Arquivo
O assassinato de John Lennon
A busca destrutiva da notoriedade

07 dezembro, 2025

Trapos e farrapos

(sinônimos que rimam)

Meu vício é você, de Adelino Moreira
c/ Nelson Gonçalves
Boneca de trapo, pedaço da vida / Que vive perdida no mundo a rolar / Pedaço de gente que inconsciente / Peca só por prazer e vive para pecar.
http://youtu.be/FhQBx2Y5VqM?si=_Ft9WJm3YpZIDIm0

Farrapo (1953), samba-canção de Paulo Borges
(mesmo autor de "Cabecinha no ombro")
Farrapo / Tua vida é um trapo / [...] / Farrapo / Tu que foste tão guapo.
http://youtu.be/svYtFt8uuvE?si=eW6t-7FMIkXMfQas

Trapo de gente, de Ary Barroso
c/ Roberto Luna
Saía comigo, bebia comigo / Depois se entregava a um amigo / Trapo de gente / Sem alma e sem coração.
http://youtu.be/SlOz9pTCMcg?si=M9QCm3MgQ5wlKjaf

Amor de trapo e farrapo, de Paulo Vanzolini
c/ Nelson Gonçalves
Amor de trapo e farrapo / Tudo errado mas tão gostoso / Que dá arrepio na espinha /Amor de galo de rinha.
http://youtu.be/VQ8lg4jIKCk?si=Vqu8ljeukGMQHIm_

Ponto de Maria Farrapo, de José Carlos Mello
c/ Juliana Passos
Quem foi que disse que meu trapo não é de lei / Trapo é trapo eu sou farrapo / Eu sou mulher de um grande rei
http://www.cifraclub.com.br/juliana-d-passos-e-a-macumbaria/ponto-de-maria-farrapo-trapo-de-lei/letra/

Maria Rosa, de Lupicínio Rodrigues e Alcides Gonçalves
c/ Paulinho da Viola
Vocês estão vendo aquela mulher de cabelos brancos / Vestindo farrapos, calçando tamancos / Pedindo nas portas pedaços de pão? / … / Os trapos de sua veste não é só necessidade / Cada um representa para ela uma saudade / De um vestido de baile ou de um presente, talvez / Que algum dos seus apaixonados lhe fez.
http://youtu.be/7yssgiJfN60?si=99ajniatuzrXfOCv

De conversa em conversa, de Lúcio Alves e Haroldo Barbosa
c/ Doris e Lúcio (vídeo)
Nosso viver não adianta / É melhor juntarmos nossos trapos / Arrume tudo que é seu / Que eu vou separando os meus farrapos.

06 dezembro, 2025

Coexistência ou contraste?

Esta ilustração mostra um pombo-correio com um ramo de oliveira no bico. Símbolo de paz e da esperança, ele está a voar em meio a uma formação de drones.


Coexistência ou contraste entre um elemento natural representativo da paz e a moderna tecnologia da guerra?

05 dezembro, 2025

Não é defeito beber

Décimas de autoria de um poeta popular desconhecido:

Bebe o chefe de polícia,
Particular, escondido,
Algum padre, por sabido
Bebe oculto a tal patrícia.
Também já tive notícia,
Ou por outra, ouvi dizer
(Foi tanto que pude crer
Um dito de certa gente)
Que bebe algum presidente.
Não é defeito beber.

No sítio bebe o major
Bebe em casa o coronel
O sargento e o furriel
Bebem no Estado Maior.
Quem quiser beber melhor
Vá na venda e mande encher,
Tome o que lhe parecer
Até matar o desejo.
Segundo o gosto que vejo,
Não é defeito beber.

Bebem os homens de estudo
Bebe o branco, o rico, o nobre
Bebe o negro, o cabra, o pobre
Bebe o cego, o mouco, o mudo
Os músicos bebem de tudo,
Sem em si nada temer:
De modo que pode haver
Alguém que não tenha falta:
Tudo sai nas rodas altas.
Não é defeito beber.

In: "Dicionário Folclórico da Cachaça"

04 dezembro, 2025

Prescrições culturais

Ir ao museu pode ser um remédio para combater o estresse e melhorar a qualidade de vida. Na Suíça, há médico dando prescrição para este tratamento (que não tem contra-indicação).

E melhor ainda: sai de graça. Se a pessoa tiver a receita nas mãos, o governo banca o ingresso.

Mesmo numa cidadezinha charmosa como NeuChâtel, em um país rico com a Suíça, os moradores podem precisar de "uma injeção de ânimo".

Como aconteceu com a paciente Benedict. A quem uma doutora local, em vez de lhe prescrever medicamentos, receitou-lhe umas visitas aos museus da cidade.

Arte faz bem a saúde, como concluiu um relatório da OMS publicado em 2019. Além de ajudar a distrair, minimizar os traumas e diminuir os declínios cognitivos, que o projeto ora descrito sirva de inspiração a outras cidades e países.


Apesar de sua população relativamente pequena (31 mil habitantes), Neuchâtel (antiga ilustração) tem vários e excelentes museus, especialmente o Latenium - um museu de arqueologia que retrata os tempos pré-históricos da região. Há, ainda, o "Homens" (museu etnográfico), um museu artístico e histórico, onde é possível ver um dos primeiros robôs feitos pelo homem, o "Jaquet-Droz" (datado de entre 1770 a 1774), o museu de História Natural e um teatro recente e muito ativo.

03 dezembro, 2025

Existe a combustão humana espontânea?

A combustão humana espontânea (CHE) é um fenômeno controverso e não comprovado cientificamente, no qual uma pessoa supostamente pega fogo sem uma fonte externa de ignição.
É quando o corpo de uma pessoa é encontrado queimado, enquanto o ambiente ao redor, e frequentemente as extremidades da pessoa, não estão queimadas. Dezenas, talvez centenas, de casos foram registrados durante os séculos XVII, XVIII e XIX, tanto que Charles Dickens incluiu o fenômeno em seu livro "Bleak House". Esses casos foram cobertos de forma sensacionalista na imprensa e frequentemente exagerados para causar impacto.
Casos famosos:
  • Mary Reeser (1951), uma idosa que foi encontrada carbonizada, com apenas um pé intacto, enquanto sua poltrona estava pouco queimada. Investigadores atribuíram ao caso o Efeito Pavio. Quando uma fonte de chama (como uma vela ou um cigarro) incinera a roupa e a gordura corporal da vítima.
  • Henry Thomas (1980), um homem que foi encontrado reduzido a cinzas em sua casa, mas o sofá onde estava quase não foi afetado.
Não é algo que o resto de nós deva temer. Nunca acontece em público e nunca no reino animal.
Apesar dos relatos históricos e dos casos misteriosos, a maioria dos cientistas e especialistas em medicina forense considera a explicação como resultado de causas naturais, embora incomuns.
Existem certas semelhanças nos casos documentados que dão aos cientistas uma pista. E o patologista forense Roger Byard disse que a combustão espontânea não acontece em animais porque "eles NÃO se enrolam em cobertores, bebem uísque e fumam".
Fontes: Neatorama e DeepSeek. Gravura: Phiz, 1853

02 dezembro, 2025

O tocador de triângulo

Por algum motivo não existe a função de tocador de triângulo na Orquestra Sinfônica das Bermudas.

Já no Nordeste brasileiro...

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01 dezembro, 2025

Batidas na porta

Um homem e sua esposa foram acordados às 3 da manhã por fortes batidas na porta. O homem se levanta e vai até a porta, onde um homem bêbado, parado sob a chuva torrencial, pede para ser empurrado.
"De jeito nenhum", diz o marido, "são 3 da manhã!"
Ele fecha a porta e volta para a cama.
"Quem era?" perguntou sua esposa.
"Só um cara bêbado pedindo um empurrãozinho", ele responde.
"Você o ajudou?" ela pergunta.
"Não. São 3 da manhã e está chovendo torrencialmente lá fora!"
"Bem, você tem memória curta", diz a esposa. "Não se lembra de uns três meses atrás, quando o carro quebrou e aqueles dois caras nos ajudaram? Acho que você deveria ajudá-lo, e deveria ter vergonha de si mesmo! Deus também ama os bêbados."
O homem retorna à chuva torrencial para fazer o que lhe foi dito.
Ele grita no escuro: "Olá, você ainda está aí?"
"Sim", responde ele.
"Você ainda precisa de um empurrão?", grita o marido.
"Sim, por favor!" vem a resposta da escuridão.
"Onde você está?" pergunta o marido.
"Aqui no balanço", respondeu o bêbado.

30 novembro, 2025

Estudante Cúmplice

Conta a história de uma adolescente nervosa que está no meio de um teste de direção quando se envolve em um assalto, com o vilão da história escolhendo o carro dela como veículo de fuga. Então, uma perseguição em alta velocidade se desenrola pelas ruas de uma cidade (que parece ser São Francisco).
Este curta de animação extremamente divertido, "Student Accomplice", foi criado por um grupo de estudantes da Universidade Brigham Young (BYU).
(https://www.kuriositas.com/2025/07/student-accomplice-driving-test.html)

29 novembro, 2025

A fina flor do abacaterol

Se usada de forma irônica, esta expressão pode sugerir o oposto do que é considerado "fino".

Mulher para o marido:
"Quando for às compras, compre meio litro de leite e, se tiver abacates, compre seis."
O homem retorna com seis litros de leite. E ela pergunta "por quê?".
"Eles tinham abacates", ele responde.

O abacate, quem diria?

28 novembro, 2025

Cadeias de sinônimos

Em 1988, percorrendo os sinônimos no dicionário universitário Merriam-Webster, A. Ross Eckler encontrou o caminho entre VERDADEIRO e FALSO:
VERDADEIRO, JUSTO, BONITO, ARTÍSTICO, ARTIFICIAL, SIMULADO, FALSO

Em seguida, por sinônimos diferentes, encontrou o caminho de volta:
FALSO, INCONSCIENTE, TOLO, SIMPLES, INCONDICIONAL, ABSOLUTO, POSITIVO, REAL, GENUÍNO, VERDADEIRO

Cada palavra de uma relação é supostamente sinônima daquela que a precede e daquela que a segue imediatamente. Mas as palavras das extremidades apresentam significados opostos. Websterian Synonym Chains.

27 novembro, 2025

Dipendra do Nepal

Ao nos reunirmos com a família para o banquete anual de Ação de Graças, alguns de nós ficamos apreensivos com as tensões entre os membros da família e a possibilidade de que algo venha a estragar a ocasião. Afinal, há razões pelas quais vivemos tão longe uns dos outros e não nos reunimos com mais frequência. 
Algumas famílias levaram essa tensão ao extremo.

Por exemplo, um homem chamado Dipendra (foto) foi a uma festa de família (em 2001) e matou o pai, a mãe, um irmão, uma irmã, além de seus tios e tias e um primo. 
Ele matou nove pessoas naquela noite. E tornou-se o rei do Nepal porque sua família era real. 
No entanto, Dipendra passou o tempo de reinado em coma (três dias), porque, no final do massacre, atirou também na própria cabeça.
(Não é tão fácil apontar uma submetralhadora MP5 para si mesmo.)
Um tio que sobreviveu às más avenças do sobrinho, então se tornou o último rei do país. É que ter uma monarquia no Nepal já não andava muito bem.

Fontes:

26 novembro, 2025

Quem é você na fila do pão?

A imagem da fila do pão (ou qualquer outra fila) é a de uma ordem, onde todos esperam a sua vez. Se alguém tenta passar à frente, significa que está ignorando essa ordem e os direitos dos outros.
Em alguns contextos, a pergunta pode ser usada para questionar se alguém realmente "merece" estar na posição em que está. Afinal, está comprando pão como todo mundo. Em outros contextos (de desigualdade social, econômica ou política), a pergunta pode também ser usada para criticar a forma como algumas pessoas se beneficiam de privilégios e oportunidades, enquanto outras são negligenciadas.


"Quem é você na fila do pão?" faz par com o emblemático "Você sabe com quem está falando?".

25 novembro, 2025

Maravilhoso monograma

Monograma é a sobreposição, agrupamento ou combinação de duas ou mais letras ou outros elementos gráficos para formar um símbolo. Monogramas frequentemente são construídos combinando as letras iniciais do nome de uma pessoa ou empresa e podem ser usados como símbolos ou logos.

C. W. Hooper, de Keswick, enviou esta criação ao "Strand" em agosto de 1901:
"Contém todas as letras do alfabeto, vinte e seis no total. Elas podem ser rastreadas com paciência. A letra N é a menor (no centro) e a única indistinta."

24 novembro, 2025

O último navio de guerra dos Papas

O Bispo de Roma tinha poder temporal significativo pelo menos desde o Papa Milcíades, uma tendência que geralmente se acelerou (com interrupções, bizantinas e outras) até que os domínios papais reuniram sua própria marinha para combater invasores muçulmanos em 849. Os papas mantiveram intermitentemente forças navais, além de exércitos, nos séculos seguintes.
A partir da década de 1840, a unificação gradual da Itália oprimiu os Estados Pontifícios e suas forças armadas. O último navio de guerra a servir na Marinha Pontifícia (Marina Pontifica) foi uma corveta a hélice construída pelos britânicos em 1859 e batizada de Immacolata Concezione. De acordo com um artigo de 1963 publicado nos Anais do Instituto Naval dos EUA, ela possuía 8 canhões de 18 libras e uma cabine muito confortável, construída com as viagens do Papa em mente. A tripulação de 46 pessoas, porém, tinha como principal missão proteger os direitos de pesca dos Estados Pontifícios.
Em 1870, o Reino da Itália invadiu os Estados Pontifícios e, digamos, convenceu o Papa Pio IX de que o poder temporal dos Bispos de Roma havia chegado ao fim. A Immacolata Concezione foi integrada à Marinha Real Italiana. Posteriormente, entrou em serviço na França. O destino exato da embarcação é incerto, mas foi definitivamente o último navio de guerra a navegar sob a bandeira papal.

23 novembro, 2025

Tenório Jr.

Francisco Cerqueira Tenório Jr., pianista e arranjador Nascido em Laranjeiras, Rio de Janeiro, em 4 de julho de 1941. Cursou (mas não concluiu) a Faculdade Nacional de Medicina, enquanto se dedicava paralelamente ao estudo do piano. Em março de 1964, gravou o LP “Embalo” de 11 faixas, dentre as quais 5 eram autorais. Tocando nas sessões do "Little Club", Tenorinho, como era conhecido na época, foi um dos nomes catapultados pelo "Beco das Garrafas" (verdadeiro laboratório de experimentações instrumentais) para se tornar, nos anos 1970, um dos profissionais mais requisitados pelos artistas brasileiros (Leny Andrade, Wanda Sá, Chico Buarque, Edu Lobo, Milton Nascimento, Lô Borges, Beto Guedes, Gal Costa, Joyce, entre outros). Na noite de 18 de março de 1976, quando acompanhava numa turnê os artistas Vinicius de Moraes e Toquinho, o pianista desapareceu misteriosamente em Buenos Aires. Tinha sido sequestrado por agentes da repressão daquele país com o aval do Estado brasileiro (Operação Condor). Durante muitos anos, sua história foi envolta em incerteza, até que, 49 anos depois, a Polícia Técnica da Argentina relacionou suas impressões digitais com as de alguém que foi executado naquele período. Esta descoberta trouxe um alívio para os familiares de Tenório, que, finalmente, souberam o que realmente aconteceu com ele. Apesar de não ter qualquer envolvimento com movimentos políticos, confundido com outra pessoa, Tenório foi sequestrado, supliciado e morto. Ao morrer, deixou quatro filhos e a esposa Carmen Cerqueira, então grávida de oito meses. Na época, ele tinha 35 anos, e a quinta criança nasceu um mês depois. Logo após o sumiço de Tenório Jr. o cineasta Rogério Lima produziu o curta-metragem de 16 mm, "Balada para Tenório", em que relata o desaparecimento de Tenório Jr. e entrevista seus familiares e amigos. Toquinho dedicou-lhe a música “Lembranças” e Elis, em 1979, dedicou à ausência de Tenório seu LP “Essa mulher”. Em 2023, o cineasta espanhol Fernando Trueba lançou uma animação em longa-metragem intitulada “Dispararon al pianista” (Atiraram no pianista). Em 1.º de outubro de 2025, foi realizado um evento no Teatro do BNDES, que contou com apresentações de Gil, Caetano, Joyce e de músicos considerados expoentes do samba-jazz para celebrar a memória de Tenório Jr.

“A memória, quando bem guardada, não desaparece." (Ruy Castro)
Brasil247.com

21 novembro, 2025

Uma pergunta fácil

Zeca está no programa "Show do Milhão". Já está na pergunta final, prestes a ganhar um milhão de reais, e tem direito a telefonar para um amigo.
A pergunta vem: "Qual é o pássaro que não faz ninho?"
A) um pardal
B) uma andorinha
C) um sabiá
D) um cuco
Zeca não sabe, então ele chama o amigo Juca.
Juca responde:
- Pôxa, Zeca, é um cuco - 100% de certeza!
Ele segue o conselho do amigo. A resposta está certa, e Zeca ganha um milhão de reais.
Depois, ele liga para Juca e pergunta:
- Com os diabos, como você sabia disso? Você não é um especialista em pássaros!
- Pô, Zeca, seu idiota! Todo o mundo sabe que ele vive dentro de um relógio, não é?

TudoPorEmail

"O homem que faz uma pergunta pode ser tolo por um minuto, mas o homem que não pergunta é tolo para a vida inteira."
~ Confúcio

20 novembro, 2025

O presidente negro do Brasil

Com a morte por pneumonia de Afonso Pena, o sexto presidente da República do Brasil, assumiu em 1909 o Executivo, então o vice: o político e advogado Nilo Peçanha (1867-1924).
De origem humilde, ele é considerado o primeiro e único presidente negro do Brasil.
Mas naquele início de século 20, com a preponderância de teorias racistas e uma ideia de embranquecimento da população, sua própria identidade racial se tornou objeto de controvérsia. "Rigorosamente, ele era um mestiço", define à BBC News Brasil o historiador Petrônio Domingues. Hoje, pelas categorias oficialmente utilizadas pelo IBGE, ele seria classificado como pardo.
Peçanha governou o país em um período profundamente marcado pelo racismo científico. Doutrinas como a frenologia e a eugenia ganhavam força no país, legitimando teorias que buscavam justificar a marginalização de pessoas negras e mestiças.
Na imprensa, era caricaturado em charges e anedotas que enfatizavam sua cor de pele de maneira depreciativa.
A conjuntura era do favorecimento da vinda de imigrantes estrangeiros para o Brasil, na ideia de que europeus brancos iriam, de certa forma, trazer o progresso para o Brasil. E de que a raça negra iria perdendo força, desaparecendo, a partir da miscigenação com a raça branca, também superior.
Nascido em Campos dos Goytacazes, no norte fluminense, teve uma infância pobre com seis irmãos em um sítio. A família se mudou para a cidade quando Peçanha chegou à idade escolar. Ele estudou Direito na Faculdade do Largo São Francisco, em São Paulo, mas acabou concluindo o curso na Faculdade do Recife.
Seu casamento chocou a sociedade da época: a noiva, Ana de Castro Belisário, a Anita, era de família rica de Campos dos Goytacazes, neta de um visconde e bisneta de dois barões. Anita chegou a fugir de casa para concretizar a união, um escândalo social que refletia as barreiras impostas pelas estruturas raciais e de classe da época.
Questões pessoais à parte, Peçanha trilhava uma sólida carreira política. Em 1890, reconhecido por seu engajamento nas lutas abolicionista e republicana, foi eleito para a Assembleia Constituinte que redigiu a primeira Carta Magna da República.
Foi deputado até 1902. No ano seguinte, tornou-se presidente do Rio de Janeiro — cargo equivalente ao atual governador. Em 1906 foi eleito vice-presidente da República. Apesar de circular em meios políticos dominados por brancos, parte da opinião pública o questionava, associando o fato de ele ser negro a eventuais dificuldades em sua capacidade de conduzir o país.
Museu da República
Paradoxalmente, quando Peçanha alcançou destaque na política nacional, a elite brasileira, alinhada com os ideais de branqueamento, tentou "corrigir" sua imagem. Fotografias oficiais e retratos eram manipulados para clarear sua pele e aproximá-lo dos padrões eurocêntricos, numa tentativa de apagar qualquer traço de diversidade racial em figuras públicas de prestígio.
Em sua passagem pelo Palácio do Catete, deixou duas marcas importantes. Foi ele quem criou o Serviço de Proteção aos Índios, órgão que antecedeu a atual Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai). E também quem fundou a Escola de Aprendizes Artífices, que é considerada a precursora do Centro Federal de Educação Tecnológica (Cefet). E por causa disso em 2011 ele foi homenageado com uma lei federal que o tornou o patrono da educação profissional e tecnológica no Brasil.
Nilo Peçanha morreu em 1924, vítima de um problema cardíaco causado pela doença de Chagas. Há dois municípios brasileiros que o homenageiam com o nome: Nilo Peçanha, na Bahia, e Nilópolis, na região metropolitana do Rio.
Extraído de: VEIGA, Edison. Quem foi o 1.º e único presidente negro do Brasil. In: BBC News Brasil

19 novembro, 2025

Ilhas de guano (2)

(Jens Otte/Getty Images)

Excrementos de pássaros, como os que adornam estas rochas ao longo da costa do Peru, têm sido historicamente uma mercadoria muito procurada. A demanda europeia e americana pelo guano peruano, rico em nitrogênio — um fertilizante natural — disparou em meados do século XIX. À medida que a oferta peruana diminuía, os Estados Unidos reivindicaram a propriedade de cerca de 100 ilhas de "guano" (10 das quais permanecem sob a propriedade do país até hoje).
A posse dessas ilhas pelos EUA tornou-se oficial em julho de 1856, com a aprovação pelo Congresso da Lei das Ilhas de Guano. Essa lei concedeu ao país "permissão" para reivindicar soberania sobre qualquer território supostamente desabitado ou não reivindicado, a fim de garantir acesso ao guano, um fertilizante valioso para as plantações de tabaco, algodão e trigo americanas.

http://www.sciencenews.org/article/us-empire-built-bird-dung, por Sujata Gupta😄

18 novembro, 2025

Vá plantar batatas!...

Um sujeito enfezado me mandou: fui.

A batata - doce, gorda e morena - parecia um pequeno gênio da garrafa: cabeça miúda, umas dobrinhas e aquele barrigão cheio de vontade de viver.

O método é prosaico. Pegue uma sacola de supermercado, molhe-a bem por dentro até pingar e coloque ali sua batata, também úmida, como quem pretende jogá-la na lixeira. Dê um nó firme - para não tentar fugir da nobre missão feminina. Depois, esqueça-a no escuro de uma gaveta por quinze dias: um repouso merecido, desses que o mundo não dá.

Então, quando se lembrar de desfazer o nó, verá brotos por todos os lados, ávidos por luz e terra. Corra com eles, os pequenos famintos de chão, para um pedaço de terra fofo: querem fincar raízes no mundo.

Não me pergunte o resto. Só sei que, passados uns quatro meses, sua batata voltará multiplicada.

E aí me pergunto: se a vida resiste e brota de otimismo até dentro de uma sacola esquecida, como é possível ainda haver fome - e tristeza - neste mundo?

Pós-escrito:

Paulo, o texto não é tutorial. Metáforas e alegorias.

Nelson José Cunha

17 novembro, 2025

Os alienígenas do mar

Ctenóforos, também conhecidos pelos nomes comuns de carambolas-do-mar ou águas-vivas-de-pente, são um filo de animais marinhos com distribuição natural cosmopolita nas águas oceânicas. Algumas de suas espécies mostram-se bioluminescentes. São superficialmente semelhantes às medusas por sua morfologia globosa, presença de uma mesogleia gelatinosa e pela transparência das suas membranas, embora estas semelhanças com as medusas representem mais uma convergência evolutiva do que um relacionamento filogenético próximo aos cnidários.
São algumas das criaturas mais estranhas da Terra. "Elas são os alienígenas do mar", disse Leonid Moroz, um neurocientista do Whitney Laboratory for Marine Bioscience em St. Augustine, Flórida.
Os ctenóforos pertencem ao ramo mais antigo da árvore genealógica animal. Eles se separaram dos ancestrais de todos os outros animais vivos há cerca de 700 milhões de anos e viajaram por seu próprio caminho evolutivo estranho desde então.
Um estudo publicado deixa claro que os cientistas mal começaram a entender a biologia bizarra destas criaturas. Pesquisadores descobriram que um par de águas-vivas-de-pente não relacionadas pode se fundir espontaneamente em um único corpo. Essa habilidade surpreendente não está apenas levantando mais perguntas sobre esses animais antigos, mas também dando pistas sobre a evolução do nosso próprio sistema imunológico.


"Isso abre uma caixa de Pandora — uma boa caixa de Pandora", disse o Dr. Moroz, que não estava envolvido na pesquisa.

Extraído de: When Two Sea Aliens Become One. in: The New York Times

16 novembro, 2025

Qual foi a primeira música brasileira gravada?

Este marco é envolto em mistério e disputa entre registros históricos incompletos, limitações técnicas da época e poucas gravações sobreviventes, segundo informa Penélope Nogueira. Ainda asim, entre as canções mais antigas e conhecidas, destaca-se o lundu "Isto é bom", escrita por Xisto Bahia e interpretada pelo baiano Manoel Pedro dos Santos para a casa Edison, a primeira gravadora do Brasil.
(Não confundir com o título de primeiro samba gravado no Brasil, que foi "Pelo Telefone", de Donga e Mauro de Almeida, gravado em 1916 e lançado no ano seguinte.)
Xisto Bahia, nome artístico de Francisco Xavier da Silva, escreveu "Isto é bom" em algum momento antes de seus vinte anos de idade, mas a canção só seria gravada em 1902, quase dez anos após sua morte.
A letra da canção é composta de sete estrofes. Confira uma delas:
"Os padres gostam de moças / E os doutores também / Eu como rapaz solteiro / Gosto mais do que ninguém."
E as estrofes eram intercaladas por este refrão:
"Isto é bom, isto é bom, isto é bom que dói." (bis)

Diferentemente de como são feitos atualmente, os registros eram feitos de forma mecânica, diretamente em cilindros de cera ou discos rudimentares, e o somera captado por grandes bocais sem uso de eletricidade, o que tornava a qualidade sonora bastante limitada.

15 novembro, 2025

A história de Benedictus

No início dos anos 1900, um químico francês (também artista e decorador), Edouard Benedictus, sofre um acidente banal no laboratório: ele deixa cair um frasco. Só que, dessa vez, ele não se estilhaça. Os pedaços de vidro permanecem grudados, como um mosaico. Intrigado, Benedictus se aprofunda e percebe que havia um colódio dentro do frasco, que, uma vez evaporado, havia se depositado na superfície do vidro como uma película e estava mantendo os pedaços de vidro juntos. Ele havia inventado, sem saber, o vidro inquebrável (laminado). Mas ele o colocou dentro de um armário e só o recuperou mais tarde, quando o mercado de automóveis criou o problema para o qual ele já havia encontrado a resposta — como se a invenção fosse a mãe da necessidade, e não o contrário.
Tais momentos de serendipidade revelam a natureza imprevisível da inovação. No entanto, mesmo em casos onde o acaso desempenha um papel, como na história de Benedictus, a questão mais ampla permanece: tais descobertas realmente nasceram da sorte, ou estavam de alguma forma "no ar", esperando que a pessoa certa as aproveitasse?

A descoberta é inevitável ou acidental? In: Nautilus

14 novembro, 2025

O Agente Secreto

Filme brasileiro de 2025 (realizado com o apoio da Ancine e de instituições financeiras da França, Holanda e Alemanha)
Mescla de gêneros (suspense, espionagem, terror)
Duração: 2 h 41 min
Roteiro e direção: Kleber Mendonça Filho (diretor de AQUARIUS e BACURAU)
Sinopse: Ambientado no Recife em 1977, durante o período da ditadura civil-militar no Brasil, "O Agente Secreto" acompanha a trajetória de Marcelo (Wagner Moura), um professor universitário e especialista em tecnologia que retorna à sua cidade natal, após anos de afastamento e fugindo de um passado misterioso e violento em São Paulo, possivelmente ligado a um conflito com um poderoso industrial e a uma patente ou invenção.
Com a vida em perigo e sob constante ameaça e vigilância, Marcelo busca encontrar um pouco de paz, proteger seu filho pequeno, Fernando, que vive com os avós maternos (o avô é projecionista no icônico Cinema São Luiz, de Recife), e, eventualmente, deixar o país com o filho (também interpretado na vida adulta por Wagner Moura). Para seus planos, ele encontra refúgio em uma casa segura com outros dissidentes e figuras marginalizadas, além da figura maternal de Dona Sebastiana (Tânia Maria).
Ao tentar se reaproximar da família e do cotidiano, ele percebe que a cidade está sob intensa vigilância e a corrupção do regime militar que ainda controla e persegue opositores. E Marcelo acaba envolvido em uma rede de espionagem e conspirações, enfrentando dilemas morais e pessoais enquanto luta para proteger a si, aqueles que ama e desvendar o próprio passado.
A narrativa explora temas como repressão política, corrupção policial, memórias interrompidas, poder empresarial, identidade, manipulação da verdade e resistência. O filme traça um retrato crítico e sensível da sociedade brasileira durante uma de suas fases mais difíceis, misturando suspense, drama e elementos de thriller, conduzidos pela direção criativa de Kleber Mendonça Filho, que reforça seu estilo de crítica social e política, com toques do imaginário popular (lenda da "perna cabeluda") e referências cinematográficas ("Tubarão", de Spielberg).

13 novembro, 2025

O espírito de gentileza

"...poderia salvar o mundo. O que nos falta é isto: espírito de gentileza." (Érico Veríssimo)

Não confunda com:

De pai para filho
Érico Veríssimo é um dos escritores mais importantes e influentes da literatura brasileira. Nascido em 1905, no município gaúcho de Cruz Alta, ele sempre teve interesse pelo universo das letras, tendo criado sua primeira revista com apenas 10 anos de idade. Publicou seu primeiro romance, "Clarissa", aos 28 anos, e a partir daí teve uma bem-sucedida carreira tanto como escritor como tradutor, e até criou sua própria editora. Quando aluno do ciclo colegial, li com indescritível prazer cerca de vinte livros de sua autoria, inclusive o monumental "O Tempo e o Vento", que se compõe de sete volumes. Eram-me emprestados, um a um, pelo colega José Ernesto Moura de Oliveira, que tinha a coleção completa das obras do escritor. Adiante, passei a ler os bem-humorados escritos de Luís Fernando Veríssimo, filho do grande mestre das letras nacionais.

12 novembro, 2025

A parábola do fazendeiro chinês

Era uma vez um fazendeiro chinês cujo cavalo fugiu. Naquela noite, todos os seus vizinhos vieram para lamentar. Eles disseram: "Sentimos muito que seu cavalo tenha fugido. Isso é uma pena." O fazendeiro disse: "Talvez." No dia seguinte, o cavalo voltou trazendo sete cavalos selvagens com ele, e à noite todos voltaram e disseram: "Oh, que sorte! Que grande reviravolta. Agora você tem oito cavalos!" O fazendeiro disse novamente: "Talvez." No dia seguinte, seu filho tentou domar um dos cavalos e, enquanto cavalgava, foi jogado e quebrou a perna. Os vizinhos então disseram: "Oh, céus, que pena!", e o fazendeiro respondeu: "Talvez." No dia seguinte, os oficiais de recrutamento vieram para recrutar pessoas para o exército, e rejeitaram seu filho porque ele tinha uma perna quebrada. Novamente todos os vizinhos vieram e disseram: "Isso não é ótimo?" Novamente, ele disse: "Talvez."

"O fazendeiro se absteve firmemente de pensar nas coisas em termos de ganho ou perda, vantagem ou desvantagem, porque nunca se sabe... Na verdade, nunca sabemos realmente se um evento é sorte ou infortúnio, só conhecemos nossas reações em constante mudança a eventos em constante mudança." ~ Alan Watts (1915 - 1973), filósofo e escritor britânico.

11 novembro, 2025

Envelhecer juntos é bom por isso

transporte de bobinas de aço

Conchita, Diego, Henrique e eu - o motorista - voltávamos de um sítio em Brumadinho.
Faltando apenas seis quilômetros para Monlevade, uma carreta carregada com bobinas de aço (como as da imagem acima) veio em sentido contrário, virou na curva e lançou as bobinas na direção destes Cunhas.
Algumas rolaram ribanceira abaixo, mas uma delas - com o codinome sai-da-frente - resolveu seguir firme para o destinatário em São Paulo. Veio com boa pontaria na nossa direção, enquanto eu freiava para escapar do impacto. (A D20 era nova...)
A bobina, porém, não teve dó, nem respeito, nem nada: continuou rolando, implacável.
Conchita gritou:
-Vai bater!
Se batesse, viraríamos papel de jornal em tintas vermelhas.
Sem alternativa, virei o volante para o barranco - e caímos, confiados de que quatro anjos da guarda e oito asas seriam suficientes.
Que nada! Estavam socorrendo outros - afinal, a BR-381 é conhecida como rodovia da morte.
Os dois meninos nada sofreram; estavam no banco de trás. As portas não abriram com o capotamento. Conchita, ao final da queda, teve escoriações leves, e eu quebrei o mais improvável dos ossos: o dedo médio - justamente aquele que mostramos “a quem nos tem ofendido”.
O coitado estava agarrado ao volante, mas ainda assim se partiu.
Nos meus mais escusos pensamentos, confesso que imaginei: será que, no meio do reboliço, não estiquei a mão pra fora com o dedo em riste?
Enfim, salvaram-se todos - exceto um revólver que fora de meu pai.
Deve ter sido encontrado por algum amigo disposto a vingar o motorista da carreta; por essas bandas, a vingança ainda é costume - e, graças a Deus, tenho ótimos amigos.
Perdi também um microscópio cirúrgico, que a esta altura deve estar servindo para operar cataratas em algum lugar.
A camionete, que Deus a tenha em boa garagem no Céu, teve a piedade de se amassar toda para nos deixar quase inteiros.
Assim, tivemos a sorte de não morrer jovens, para sentir as dores da velhice - essas são teimosas e aparecidas.
Todo dia uma delas me acorda com uma fisgada: ora na perna, ora no braço, ora na testa.
Só não dói o ovário - mas a Conchita sente alguma fisgada por lá.
Envelhecer em casal é bom por isso.
Nelson José Cunha